O DM Digital de 09/02/12, por Manoella Porto, noticia que Goiás avança em indicadores. Avança em educação, tecnologia, infraestrutura e saúde.
No quadro da saúde aparece que a taxa de homicídios também avançou: de 71,40 por 100 mil habitantes em 2001 para 96,50 em 2009. Mais gente vivendo melhor e mais gente matando gente, e isto afasta a idéia de que quando a vida em coletivo melhora a violência diminui.
No período apurado o avanço na educação é notável pois a taxa de jovens universitários quase que dobrou, e o uso da tecnologia de informação e comunicação foi quase ao triplo.
Porque será que as pessoas com mais educação e mais tecnologia de apoio às relações sociais estão matando mais?
De plano vem que o avanço dos índices significa crescimento em qualidade social, ou seja: o sistema está melhor, mas o avanço da taxa de homicídios indica que houve crescimento do desvio sistêmico.
Todo sistema tende a apresentar um desvio, pois não existe a ordem absoluta e, quanto maior e mais complexo maior poderá ser o desvio inerente, mesmo em sistemas bem ordenados.
Para evitar o crescimento do desvio inerente é necessário fazer a manutenção da ordem com atenção aos subsistemas que possam apresentar desvio maior e perturbarem os demais subsistemas.
É como numa residência: mesmo pessoas de "altos índices" tenderão para o desvio se o ambiente em que vivem for carecedor de recursos ou manutenção, como uma televisão dividida entre jovens e adultos; um banheiro para muitas pessoas; coisas jogadas no chão; lâmpadas queimadas etc.
Somando a isto a natural tendência de não se preocupar com as coisas que estão funcionando bem, a visão da aparência de normalidade é que leva a descobrir que as portas estão cheias de cupim porque o verniz não foi renovado, e isto ocorre porque o verniz não é condição essencial para o funcionamento da porta.
Essa natural tendência decorre da perda de atenção causada pela pressão da exigência de atenção com outras coisas de maior prioridade.
A maior exigência de atenção com mais coisas tem feito com que a indústria de serviços "cuidadores" tenha crescido, e os cuidadores cuidam daquilo que alguém não pode cuidar porque tais estão em prioridade baixa.
O passeador de cachorro é o cuidador que alivia interromper alguma atividade mais importante e garante que o dono do cachorro tenha um cachorro passeado.
E assim por diante.
E assim acontece em quase todos os aspectos do cotidiano da vida, bastando ter dinheiro para pagar o cuidador.
Mas isto significa que as pessoas perderam a noção do cuidado sistêmico necessário para manter as coisas em bom funcionamento, e ainda não se formou o sistema de cuidado no qual os cuidadores possuem estreito vínculo com os titulares do cuidado e cuidam como se fossem o próprio dono do cachorro.
Os cuidadores são úteis mas não são subsistemas em conexão necessária, logo, constituem partes estanques que, de quando em quando exercem pressão sobre as demais.
Já imaginaram o problema causado por uma greve de passeadores de cachorro?
Pois é, pode acontecer, e o cachorro do qual cuidam será o sacrificado em nome de poderem proporcionar maiores cuidados.
Parece com a greve dos policiais militares em Salvador-BA: a ordem pública da qual são zeladores está sendo sacrificada para que obtenham melhores condições para cuidar da ordem pública.
Parece que as autoridades estão dizendo que o carnaval em Salvador acontecerá normalmente.
Isto enquanto os assaltos, depredações, saques e mortes acontecem à luz do dia.
Bem, o cenário pode ser analisado: polícia é polícia, governo é governo, carnaval é carnaval e povo é povo.
E até pode ser criado um lema para a peça encenada nesse teatro: cada um para si e adeus para todos.
E o povo? povo é o conjunto de seres humanos mantidos vivos (se possível) para ser utilizado numa festividade bienal denominada "eleições".
Imagem marinthesky.wordpress.com
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