Mariazinha estava em rota de casamento quando descobriu nos guardados da mãe um livro de receitas da avó.
Ainda guardava lembranças de ter comido as deliciosas rosquinhas torcidas que a avó fazia.
Na página do caderno dedicada à guloseima, em verdadeira caligrafia, estava: tome de um bom punhado de polvilho numa vasilha; acrescente dois ovos e uma porção generosa de manteiga; amasse até adquirir a consistência certa; deixe descansar um bom tempo, modele e asse em tabuleiro untado, em forno quente.
Mariazinha faz rosquinhas desde a descoberta, já tem uma neta, e ainda não acertou a mão.
Refaz, faz e refaz a receita, variando o tanto bom de farinha e a porção generosa de manteiga; testa a consistência; aumenta e diminui o bom tempo de descanso e a temperatura do forno.
Mariazinha faz rosquinhas torcidas que todos comem e gosta, comem e gostam até que ela faz novo experimento e as pessoas comem e gostam. Porém, rosquinha torcida da vovó, que é bom, a rosca certa, nada.
Criei a historia de Mariazinha ao ler mais uma novidade sobre mudanças no Código Penal.
O Direito Penal é um mistério tão misterioso que, se fosse bom e certo em relação ao que pretendem fazer com ele o crime e os crimonosos já não existiriam.
E tome experimentação: aumenta isto, diminui aquilo, tira, põe, deixa ficar, e tome experimentação porque o preço é pago pelas vítimas e pelo contribuinte.
Mais uma vez estão dizendo que o Direito Penal não funciona porque seu irmão xifópago, o Processo Penal, é complicado e lento, ou seja, não adianta a cabeça do direito pensar em um lugar bom para ir pois as pernas do processo chegam lá tarde demais.
Quando uma nova rosquinha penal fica pronta a fome já passou e os confeiteiros deitam mãos na massa preparando uma nova receita que satisfaça o apetite.
Aumentar o tempo de prisão ou rebaixar a idade penal? Ambos?
Diminuir a quantidade de recursos? Tirar da Constituição a palavra ampla e deixar somente defesa?
Aumentar o número de tiroteios no meio da rua e consequentemente o número de balas perdidas e vítimas inocentes achadas?
Demitir o secretário de segurança ou os comandantes das polícias?
Um dia, espero, descobrirão que o Direito Penal perde sua importância na razão direta em que se constrói uma sociedade livre, justa e solidária, e que isto começa com educação de qualidade e farta distribuição de dignidade.
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