3 de fevereiro de 2013

A RECEITA DA VOVÓ - Alterações no Código Penal

Mariazinha estava em rota de casamento quando descobriu nos guardados da mãe um livro de receitas da avó.

Ainda guardava lembranças de ter comido as deliciosas rosquinhas torcidas que a avó fazia.

Na página do caderno dedicada à guloseima, em verdadeira caligrafia, estava: tome de um bom punhado de polvilho numa vasilha; acrescente dois ovos e uma porção generosa de manteiga; amasse até adquirir a consistência certa; deixe descansar um bom tempo, modele e asse em tabuleiro untado, em forno quente.


Mariazinha faz rosquinhas desde a descoberta, já tem uma neta, e ainda não acertou a mão.

Refaz, faz e refaz a receita, variando o tanto bom de farinha e a porção generosa de manteiga; testa a consistência; aumenta e diminui o bom tempo de descanso e a temperatura do forno.

Mariazinha faz rosquinhas torcidas que todos comem e gosta, comem e gostam até que ela faz novo experimento e as pessoas comem e gostam. Porém, rosquinha torcida da vovó, que é bom, a rosca certa, nada.

Criei a historia de Mariazinha ao ler mais uma novidade sobre mudanças no Código Penal.

O Direito Penal é um mistério tão misterioso que, se fosse bom e certo em relação ao que pretendem fazer com ele o crime e os crimonosos já não existiriam.

E tome experimentação: aumenta isto, diminui aquilo, tira, põe, deixa ficar, e tome experimentação porque o preço é pago pelas vítimas e pelo contribuinte.

Mais uma vez estão dizendo que o Direito Penal não funciona porque seu irmão xifópago, o Processo Penal, é complicado e lento, ou seja, não adianta a cabeça do direito pensar em um lugar bom para ir pois as pernas do processo chegam lá tarde demais.

Quando uma nova rosquinha penal fica pronta a fome já passou e os confeiteiros deitam mãos na massa preparando uma nova receita que satisfaça o apetite.

Aumentar o tempo de prisão ou rebaixar a idade penal? Ambos?

Diminuir a quantidade de recursos? Tirar da Constituição a palavra ampla e deixar somente defesa?

Aumentar o número de tiroteios no meio da rua e consequentemente o número de balas perdidas e vítimas inocentes achadas?

Demitir o secretário de segurança ou os comandantes das polícias?

Um dia, espero, descobrirão que o Direito Penal perde sua importância na razão direta em que se constrói uma sociedade livre, justa e solidária, e que isto começa com educação de qualidade e farta distribuição de dignidade.

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