11 de outubro de 2012
AS PROVAS NO MENSALÃO
No mundo da realidade fática as "coisas" são reveladas à inteligência humana através dos cinco sentidos de percepção, e isto é bastante para assentar que existe a "coisa" como uma verdade em si mesma e a "coisa percebida" que pode ser chamada de "verdade inteligente". Esta é a primeira deformação da realidade pura que, na prática, pode ser reduzida com o uso de recursos que melhorem a percepção, como por exemplo os óculos de leitura.
Saber, ou decifrar, ou entender o que a "coisa" é está um passo adiante de perceber com a menor deformação possível. A compreensão - ou utilidade da percepção - depende de um corpo de conhecimentos que permita associar a "coisa" percebida à realidade inteligente, mas não é só isto, pois o indivíduo que percebe e tenta compreender é sempre detentor de uma "especialização", esteja ou não consciente disto, o que é expressado como característica da individualidade, de modo comum: é assim que vejo, é assim que penso, é assim que entendo, e tais expressões podem ser denominadas como "constantes de deformação da percepção".
Uma vaca pode revelar à inteligência um punhado de dinheiro, um copo de leite ou uma picanha espetada, conforme o corpo de conhecimentos e constante de deformação daquele que percebe a vaca, e nenhum estará errado e qualquer um desse podera demonstrar a adequação de sua percepção à "coisa" sem que esteja corrompendo a verdade.
O desenho feito aponta para um cenário caótico de conflitos em torno da verdade desde que o ser humano inteligente habitou o Planeta e grupos se formam a partir de verdades comuns a seus elementos e os conflitos passam a ser entre grupos, ou entre populações, ou entre povos.
Como não poderia deixar de ser dentro do caos existem grupos cuja constante de deformação da percepção os orienta para a solução dos conflitos e tais grupos são reconhecidos como legítimos porque sua atuação é tendente a tornar a realidade das relações humanas mais agradáveis ou menos desagradáveis. Tal fenômeno ocorre tanto numa pelada num campinho de ponta de rua quando os times escolhem o árbitro quanto em questões de ordem social quando os julgadores (em qualquer escala) são reconhecidos como legítimos.
O leitor já deve ter percebido que estamos falando do julgamento do "mensalão" (AP 470, STF) no qual, em alguns casos, não tem ocorrido uniformidade na decisão, ficando aparente, pelas argumentações expostas, que existem diferentes percepções (verdades inteligentes) sobre uma mesma "coisa" (verdade conhecida), tornando possível afirmar que, a par de o "corpo de conhecimentos" se apresentar uniforma a divergência se apresenta pela desuniformidade entre as "constantes de deformação da percepção" - é assim que vejo, é assim que penso.
De outros pontos de observação estão:a) os profissionais da defesa que tem o dever de minimizar, senão eliminar, as acusações contra seus clientes, e seus pares que esperam a formação de uma jurisprudência de minimização ou eliminação que possa ser aproveitada no futuro e, exatamente em nome da ampla defesa não comento; b) os teóricos que se dividem entre a acusação e defesa mas deixam vazar, em suas falas, a existência de constantes de deformação da percepção orientadas por externalidades ao tema; c) e, por fim, grosso modo, o universo dos leigos ao qual - pela minha constante de deformação da percepção - atribuo que a cultura formada por 500 anos de manda quem pode e obedece quem tem juízo o divide entre aqueles que querem condenação a todo custo para se livrarem do relho no lombo e aqueles que se espantam com a condenação daqueles que lhes proporcionam alívio entre o subir e o baixar do relho.
Metade da população do Brasil espera que os políticos façam alguma coisa por ela. A outra metade espera que os políticos façam alguma coisa por ela e não para a outra metade.
Oriundos de uma ou de outra metade estão os rebeldes, quase que perdidos, a esperar que os políticos façam alguma coisa para todos sem que o fazer tenha que ser pago com voto ou dinheiro.
Assim, o Brasil está dividido entre aqueles que mesmo sabendo onde "eles" bebem água dizem que não há marca da boca "deles" na botija, e aqueles que afirmam que a sede "deles" foi saciada com a água da botija porque a marca da botija está na boca "deles".
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